Pelo menos dez militantes bolsonaristas condenados ou investigados por participarem dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2022, quebraram suas tornozeleiras eletrônicas e fugiram do Brasil. Um levantamento feito pelo UOL revela que ao menos 51 pessoas suspeitas de envolvimento em atos antidemocráticos após as eleições presidenciais têm mandados de prisão em aberto ou fugiram após quebrar os dispositivos de monitoramento.
Condenados por tentativa de golpe entre os foragidos
Entre os fugitivos, sete já foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de dez anos de prisão por participarem da tentativa de golpe de Estado no 8 de Janeiro. Seis dos dez foragidos são mulheres, a maioria proveniente dos estados do Sul (Paraná e Santa Catarina) e do Sudeste (São Paulo e Minas Gerais), com idade média de 50 anos.
O levantamento foi realizado com base em registros do STF, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ordens de prisão e entrevistas com familiares, investigadores, amigos e advogados. Um dos fugitivos, que se autodenomina um “exilado político”, faz até campanha nas redes sociais para financiar sua permanência no exterior, chegando a oferecer uma rifa de um veículo.
Falta de ação das autoridades
As polícias civis de Santa Catarina e Rio Grande do Sul afirmaram não ter sido solicitadas a realizar buscas pelos foragidos, enquanto a Polícia Civil do Paraná não se manifestou. Os órgãos de administração penitenciária do Paraná e Santa Catarina se recusaram a informar quantos investigados quebraram tornozeleiras ou fugiram desde o ano passado.
Procurados, o STF e a Polícia Federal não se pronunciaram sobre as buscas pelos fugitivos. Não há alertas públicos da Interpol (polícia internacional) sobre os foragidos.
Defesa nega atos de depredação e tentativa de golpe
Os advogados dos investigados e réus negam que eles tenham depredado prédios públicos ou participado de tentativa de golpe de Estado nos ataques de 8 de janeiro. Alguns afirmaram que seus clientes estavam nos prédios dos Três Poderes apenas para se protegerem de bombas lançadas por agentes de segurança.
“Estes [os que foram presos no Palácio do Planalto] têm que pagar pelo que fizeram, mas [para] o crime de depredação não cabe prisão desse jeito. O Estado não é o Palácio. Você não atentou contra o Estado invadindo o Palácio, ainda mais num domingo.” – Cláudio Caivano, advogado de um dos fugitivos e outros 20 bolsonaristas.
Pedidos de asilo político
Pelo menos um dos fugitivos afirma ter pedido asilo político à Argentina. As assessorias dos ministérios do Interior e das Relações Exteriores argentinos disseram ao UOL que não revelariam quem entrou no país ou quem pediu asilo por se tratarem de dados pessoais.
De acordo com as leis brasileiras, a destruição da tornozeleira e a fuga não aumentam a punição, mas o fugitivo perde o direito ao regime aberto e volta ao semiaberto ou fechado. Por outro lado, facilitar a fuga é considerado crime punível com seis meses a dois anos de detenção.
Casos de foragidos
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Ângelo Sotero, músico, 59 anos, de Blumenau (SC): Condenado a 15 anos e meio de prisão por tentativa de golpe de Estado e associação criminosa armada. Segundo seu advogado, Sotero fugiu para a Argentina com um grupo de dez bolsonaristas.
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Gilberto Ackermann, corretor de seguros, 50 anos, de Balneário Camboriú (SC): Condenado a 16 anos de prisão por participar dos atos golpistas e invadir o Palácio do Planalto. Também faz parte do grupo que fugiu para a Argentina.
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Raquel de Souza Lopes, 51 anos, de Joinville (SC): Acusada de destruir bens durante os ataques, Raquel nega as acusações. Segundo investigadores, ela fugiu para a Argentina em abril.
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Luiz Fernandes Venâncio, empresário, 50 anos, de São Paulo (SP): Réu em ação penal no STF, Venâncio fugiu para a Argentina e pediu asilo político ao governo de Javier Milei.
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Flávia Cordeiro Magalhães Soares, empresária, 47 anos: Responde a investigações relacionadas aos ataques contra o resultado das eleições. Está foragida pelo menos desde fevereiro.
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Alethea Verusca Soares, 49 anos, de São José dos Campos (SP): Condenada a 17 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Fugiu para o Uruguai e, posteriormente, para a Argentina.
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Rosana Maciel Gomes, 50 anos, de Goiânia (GO): Condenada a 14 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Fugiu para o Uruguai e, em seguida, para a Argentina.
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Jupira Silvana da Cruz Rodrigues, 58 anos, de Betim (MG): Condenada a 14 anos de prisão por tentativa de golpe. Fugiu para o Uruguai em janeiro deste ano.
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Daniel Luciano Bressan, pedreiro e vendedor, 37 anos, de Jussara (PR): Réu em ação penal por participar dos ataques golpistas. Nega ter entrado no Palácio do Planalto.
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Fátima Aparecida Pleti, empresária, 61 anos, de Bauru (SP): Condenada a 17 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Quebrou a tornozeleira durante o julgamento.