Uma abordagem policial a três adolescentes negros, filhos de diplomatas, pela Polícia Militar no Rio de Janeiro na última quarta-feira, trouxe à tona uma discussão sobre racismo estrutural no Brasil. No incidente, enquanto dois jovens brancos não foram abordados, os três adolescentes negros tiveram armas apontadas para eles.
A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) registrou 70 casos de racismo e intolerância religiosa no primeiro semestre deste ano. A promotora de Justiça da Bahia, Lívia Sant’Anna Vaz, destacou que a atenção ao caso se deu pelo fato de as vítimas serem filhos de diplomatas, o que gerou um constrangimento internacional para o Brasil. Segundo Lívia, situações similares ocorrem diariamente com jovens negros em bairros periféricos, mas são naturalizadas pela sociedade brasileira.
Camila Carneiro, advogada e presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB Bahia, afirmou que jovens negros são frequentemente vistos como ameaças sociais. Ela enfatizou a necessidade urgente de redefinir o conceito de “atitude suspeita”, que pode ser influenciado por preconceitos raciais.
A titular da Sepromi, Ângela Guimarães, apontou que a educação é um caminho para combater esses estereótipos. Ela defende a promoção de campanhas de conscientização permanente para confrontar os vieses inconscientes e os perfilamentos raciais, propondo uma educação antirracista e crítica em todas as instituições.
No primeiro semestre de 2024, o Centro de Referência Nelson Mandela (CRNM) registrou 46 casos de racismo, 18 de intolerância religiosa e 6 ocorrências correlatas. No mesmo período em 2023, foram 80 ocorrências. A gestora destacou a subnotificação desses casos, mencionando que os números refletem apenas a realidade daqueles que conhecem e utilizam os mecanismos de denúncia.