Conceição Evaristo, reconhecida por sua contribuição pioneira à literatura brasileira, reflete sobre as influências e projetos em andamento na Bahia. Primeira mulher negra na Academia Mineira de Letras, Evaristo é a criadora do termo “Escrevivência”, que une “escrever” e “viver”.
Seus principais livros, como “Ponciá Vicêncio” (2003), “Becos da Memória” (2006) e “Olhos d’Água” (2014), são amplamente estudados e utilizados em instituições de ensino pelo Brasil, inclusive na Bahia. Para fomentar a “Escrevivência”, ela criou a Casa Escrevivência, um espaço no Rio de Janeiro com biblioteca e obras da escritora. A iniciativa é destinada a escolas públicas, professores, pesquisadores e artistas.
Durante o evento Julho das Pretas, promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado (SPM), Evaristo mencionou a possibilidade de expandir a Casa Escrevivência para a Bahia. “Meu grande desejo é fazer um ‘puxadinho’. No momento, estamos lutando para a implantação física da Casa. Estamos buscando meios para comprar uma casa maior,” disse Evaristo.
A escritora destaca a importância de várias mulheres negras da Bahia em sua vida, como Luiza Bairros, Mãe Menininha do Gantois e Mãe Olga do Alaqueto. “A luta da mulher baiana nos inspira muito,” afirmou Evaristo.
Academia da vida
Conceição Evaristo valoriza sua formação acadêmica, mas credita sua “verdadeira escola” às vivências nas periferias e à oralidade da comunidade. “Tem um imaginário que o escritor nasce nas classes sociais altas com todos os aparatos e livros […] Nem todos os doutores são donos de sabedoria. Na maioria das vezes, até me arrisco a dizer, eles são donos de uma burrice muito grande”, criticou.
Para Evaristo, a “Escrevivência” é também uma forma de comunicação que perturba as estruturas tradicionais e o machismo. “Cada mulher que busca seu espaço contribui para a luta contra a desigualdade de gênero, mesmo sem teorizar sobre isso”, destacou.
Ela acredita que as mulheres têm um ponto de vista diferente ao noticiar fatos e que as comunicadoras negras devem se impor na mídia brasileira. “Nós, mulheres negras, temos de ser ativas na luta por nosso lugar e nossos espaços”, concluiu Evaristo.