Lead: A influenciadora baiana Cacai Bauer, de 30 anos, utiliza suas redes sociais para abordar a redução no número de nascimentos de pessoas com síndrome de Down, associando a tendência a práticas eugênicas.
Em um vídeo publicado recentemente, Cacai faz referência a uma notícia sobre a alta taxa de aborto na Islândia para fetos diagnosticados com trissomia 21, chamando a atenção para a prática de seleção genética. A informação destaca que o avanço dos exames pré-natais, utilizados desde a década de 1980, permitiu a detecção precoce da condição, o que tem influenciado a decisão pela interrupção de gestações.
A influenciadora argumenta que a prática se configura como uma forma de eugenia, uma ideologia que busca, pelo controle reprodutivo, eliminar características consideradas indesejáveis. No mesmo vídeo, Cacai ressalta casos de personalidades, como a modelo Amanda Leal e a escritora Fernanda Machado, que atuam em posições de destaque e têm síndrome de Down.
Janaina Bauer, mãe de Cacai e administradora de suas redes sociais, declarou que não concorda com o que considera um absurdo, enfatizando que pessoas com deficiência possuem direitos e potencialidades que muitas vezes superam expectativas. Conforme a declaração, “nós temos o direito de fazer muito mais do que muitos imaginam”.
O psicopedagogo Alex Duarte, fundador do Instituto Cromossomo 21, explica que a prática pode ser comparada a outros episódios históricos de extermínio e segregação de grupos, reivindicando a necessidade de combater a desinformação e o preconceito que circundam a síndrome de Down. Segundo ele, em alguns casos, a decisão de interromper a gravidez é influenciada por opiniões de profissionais e pressões sociais.
Uma pesquisa publicada na revista científica Human Genetics, inicialmente em 2020 e atualizada no final de 2022, identificou que na última década 54% das gestações com o diagnóstico de síndrome de Down foram interrompidas na Europa. O estudo destaca que na década de 1980, cerca de 90% das mulheres levaram a termo a gestação, número que atualmente caiu significativamente. Entre os países analisados, a Espanha registrou a maior taxa de abortos em gestações com o diagnóstico, com 83%, seguida por Portugal, com 80%, e Dinamarca, com 79%.
No contexto brasileiro, relatos de mães que receberam sugestões de aborto ou adoção após o diagnóstico reforçam a necessidade de promover a inclusão e a disseminação de informações precisas sobre a condição. Essa abordagem é considerada fundamental pelo especialista para garantir o respeito à dignidade de todas as pessoas.