Uma investigação conduzida pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) revelou um esquema de regalias e facilitação de fuga que culminou na prisão da ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis. As denúncias, que vieram à tona em março deste ano, apontam para a concessão de privilégios a detentos, incluindo refeições especiais e até um velório dentro da unidade prisional, além de envolvimento na fuga de 16 presos ocorrida em dezembro de 2024.
Joneuma Silva Neres foi detida pela Polícia Civil da Bahia na noite da última quinta-feira, em Eunápolis, sob um mandado de prisão preventiva expedido pela Comarca local. A prisão ocorreu na Avenida Getúlio Vargas, próximo a uma agência bancária. Durante a abordagem, foram apreendidos aparelhos celulares, chips telefônicos, um caderno de anotações e R$ 8 mil em dinheiro. Após a perícia, a ex-diretora foi transferida para o Conjunto Penal de Teixeira de Freitas. As apurações seguem em andamento.
Denúncias e Regalias Inusitadas
O documento do MP-BA, ao qual a TV Bahia teve acesso, detalha uma série de benefícios concedidos a alguns detentos durante a gestão de Joneuma. Entre as autorizações que mais chamaram a atenção, está a permissão para que um chefe de grupo criminoso “velasse” o corpo de sua avó dentro do próprio presídio, com a entrada de um caixão e o cadáver na unidade.
Outras facilidades relatadas incluem:
- Acesso irrestrito a freezers introduzidos por determinação de “Dada”, preso foragido e apontado como suposto amante da ex-diretora.
- Refeições especiais, como moquecas de camarão, lasanhas e chesteres.
- Disponibilidade de equipamentos e caixas de som.
- Realização de visitas íntimas dentro dos pavilhões.
Um detento, em depoimento à polícia, relatou ainda uma comemoração do Dia da Consciência Negra em que todas as celas foram abertas. O evento teria contado com a distribuição de acarajés e uma roda de capoeira, conforme as investigações.
Fuga em Massa e Ligação Criminosa
A investigação da Delegacia Territorial de Eunápolis apontou que Joneuma teria facilitado a invasão e a subsequente fuga de 16 detentos. O incidente ocorreu em 12 de dezembro de 2024, por volta das 23h, quando criminosos armados invadiram o Conjunto Penal.
Os fugitivos, que estavam no pavilhão B, utilizaram uma “teresa” – corda artesanal feita de lençóis – para escapar pela lateral do alambrado. O momento foi registrado por câmeras de segurança internas do presídio, mostrando os criminosos e os detentos correndo na área externa da penitenciária. Uma semana após a fuga, a Polícia Civil localizou um acampamento improvisado, com barraca, colchonetes e cobertores, que teria sido usado por um dos foragidos, mas ele não foi encontrado. O material foi destruído para evitar nova utilização.
A ex-diretora também teve sua ligação identificada com uma organização criminosa, que, segundo apurações do Portal A TARDE, seria o Primeiro Comando de Eunápolis (PCE). Ednaldo Pereira Souza, conhecido como “Dada” e apontado como líder do PCE e alvo do resgate na fuga, está entre os 16 internos que escaparam. Os demais fugitivos são: Sirlon Risério Dias Silva, Mateus de Amaral Oliveira, Geifson de Jesus Souza, Anderson de Oliveira Lima, Altieri Amaral de Araújo, Anailton Souza Santos, Fernandes Pereira Queiroz, Giliard da Silva Moura, Rubens Lourenço dos Santos, Valtinei dos Santos Lima, Romildo Pereira dos Santos, Thiago Almeida Ribeiro, Idário Silva Dias, Isaac Silva Ferreira e William Ferreira Miranda.