Marcos Luca Valentim, jornalista e comentarista, vai a Salvador, na Bahia, no próximo dia 7, para discutir a discriminação racial no esporte durante a 4ª edição do Encontros Negros, que ocorre nos dias 6 e 7 de novembro no Teatro 2 de Julho. A entrada é gratuita, com ingressos pelo Sympla, e o tema central aponta que o racismo no futebol não se extingue porque há interesse em manter o silêncio.
Valentim recorda que, na Globo, ajudou a criar o primeiro grupo étnico-racial da emissora, formado apenas por jornalistas negros, movimento que originou o Ubuntu Esporte Clube, criado em 2020 por ele e mais três colegas — Renata Novaes, Ida Santos e Consuelo Cruz — para discutir o esporte em si, não apenas casos de racismo.
“Não se combate o racismo no futebol porque não há interesse em fazer isso”, disse Valentim.
Salvador: símbolo do debate sobre raça
Para Valentim, Salvador tem significado simbólico por ser um polo racialmente expressivo e pelo vínculo pessoal com a cidade, o que reforça o caráter permanente das pautas sobre raça. As colocações sobre o tema ressaltam que as pautas raciais são cíclicas e que a diversidade perde espaço mercadológico, com o debate não devendo ser visto como evento pontual, mas como compromisso permanente, sem data de expiração.
Na prática jornalística, Valentim defende a transformação do diálogo em ação. Ele cita Malcolm X ao lembrar que a imprensa pode distorcer narrativas e afirma que, com a internet e o celular, houve abertura de vozes e verdades, abrindo espaço para que pessoas negras se expressem também dentro dos veículos de comunicação.
“Se a gente não tiver cuidado, a imprensa faz você odiar o oprimido e amar o opressor.”
O encontro, segundo ele, é visto como espaço de comunicação para a transformação de diálogo em ações reais.
Quanto ao papel dos atletas, o entrevistado afirma que a mudança depende do poder do espetáculo: o futebol movimenta grande dinheiro, tem recursos e know-how para enfrentar o racismo, porém, segundo ele, a falta de interesse em confrontar patrocinadores, autoridades e o poder econômico ainda freia a mudança. Ele cita episódios recentes, como reação de um jogador a ofensas raciais, que sinalizam maior consciência entre atletas, e sustenta que os atletas, por serem protagonistas do espetáculo, podem provocar mudanças significativas quando decidirem não entrar em campo enquanto o racismo persistir. Também aponta que esportes com menos visibilidade enfrentam barreiras estruturais semelhantes, o que contribui para a manutenção de discriminação racial.
O debate, conforme Valentim, seguirá como compromisso permanente com ações previstas para as próximas edições do Encontros Negros e iniciativas associadas, refletindo a visão de que o combate ao racismo é um movimento contínuo e não um momento isolado.
