‘A Natureza das Coisas Invisíveis’, em cartaz nos cinemas, trata do luto pela ótica infantil, utilizando a sensibilidade das crianças para abordar temas como morte e identidade. Dirigido por Rafaela Camelo, o filme estreou mundialmente no Festival de Berlim e foi premiado no Festival de Gramado, além de ter encerrado o Festival de Brasília.
A trama se concentra em Glória (Laura Brandão), uma menina de dez anos que, durante as férias escolares, acompanha sua mãe, enfermeira em um hospital. Em seu novo ambiente, ela forma laços com os pacientes, especialmente os idosos, e enfrenta a realidade da morte de forma abrupta. A introdução de Sofia (Serena), que também está lidando com a internação de sua bisavó, traz um elemento de companheirismo em meio a situações delicadas.
O filme se destaca ao capturar a curiosidade de crianças sobre a morte, refletindo a própria experiência da diretora, que comentou sobre os questionamentos que surgem na infância referentes ao tema. A narrativa se desenvolve entre a descoberta do mundo e a tranquilidade, mesmo diante das crises. O caminho para o crescimento pessoal das protagonistas é apresentado de maneira sensível, ressaltando como crianças lidam com a dor e a vulnerabilidade ao seu redor.
Explorando a dinâmica familiar, as relações entre mães e filhas revelam cicatrizes e desafios. Enquanto a mãe de Glória mantém uma relação de cumplicidade, a mãe de Sofia, envolta em conflitos, busca se conectar com sua filha em tempos difíceis. A ausência das figuras paternas reforça a carga que pesa sobre elas, unindo ainda mais a dupla na busca por apoio.
Outro tema relevante abordado é a identidade queer, que aparece sutilmente na história de uma das personagens, sem necessidade de explícitos esclarecimentos. A cumplicidade entre as crianças serve como ponte para a compreensão das diferentes experiências de vida, destacando a importância do diálogo e da aceitação.
À medida que a história evolui, as mães de Glória e Sofia começam a compartilhar preocupações em relação a suas famílias. A recuperação da bisavó no ambiente rural traz uma nova perspectiva ao filme, onde a natureza se torna um elemento curativo e transformador. A simplicidade do campo permite uma conexão renovada entre elas, introduzindo um elemento de fantasia e reflexão sobre a vida e a morte.
Com uma narrativa delicada, ‘A Natureza das Coisas Invisíveis’ propõe um olhar sobre os dilemas humanos e as relações interpessoais em meio à perda, levando à ideia de despedida como uma forma de autoperdão e renovação.

