Pode parecer inusitado, mas o leite de jumenta está ganhando um espaço de destaque no mercado global. Conhecido por ser uma excelente fonte de proteína e lactose, este produto peculiar não só se expande na pecuária brasileira como também se torna um alimento funcional e hipoalergênico bastante procurado em vários países.
No exterior, o valor do leite de jumenta impressiona. Enquanto na Argentina um litro pode custar cerca de 25 pesos (equivalente a R$ 0,10), na Europa esse preço pode disparar para até 45 euros, o que dá aproximadamente R$ 284,40. Essa valorização é um sinal claro do seu nicho de mercado, especialmente ligado a questões de saúde e bem-estar.
Um Aliado na Saúde e Alimentação Infantil
As propriedades nutricionais e imunológicas únicas do leite de jumenta são um dos seus maiores atrativos. O professor Gustavo Carneiro, especialista em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), explica que o produto tem um enorme potencial, principalmente para crianças que não podem consumir o leite de vaca por intolerância à proteína.
“O produto tem grande potencial no mercado nacional e internacional, especialmente para crianças com intolerância à proteína do leite de vaca”, afirma o pesquisador.
Além de ser uma alternativa valiosa para a alimentação infantil, este nicho abre portas para novos modelos de negócio. Gustavo Carneiro destaca que a produção de leite de jumenta pode aumentar a renda de pequenos produtores e fortalecer novas cadeias produtivas no campo.
Pesquisas Buscam Levar o Leite para UTIs Pediátricas
O impacto do leite de jumenta vai além do consumo comum. Pesquisadores da Universidade do Agreste de Pernambuco (Ufape), em Garanhuns, estão dedicados a estudos que podem revolucionar o uso deste alimento. A grande expectativa é que, até 2026, o leite possa ser oferecido com segurança em UTIs pediátricas e neonatais, graças às suas qualidades terapêuticas.
O professor e pesquisador Jorge Lucena, coordenador do grupo de estudo, ressalta o cuidado com a produção:
“Tudo é desenvolvido com base nas boas práticas. Temos um rebanho controlado, vacinado contra as principais enfermidades, além das boas práticas de ordenha e da pasteurização do leite. A previsão é que os testes finais para uso em humanos ocorram em breve, permitindo que o alimento esteja disponível para UTIs neonatais dos hospitais de Pernambuco no primeiro semestre de 2026”, informa Lucena.
Essa iniciativa brasileira se inspira em modelos já bem-sucedidos em outros países, como a Itália, que há anos utiliza o leite de jumenta com fins medicinais.
Muito Além da Alimentação: Cosméticos e Economia Circular
Engana-se quem pensa que o leite de jumenta serve apenas como alimento. Sua rica composição, com vitaminas A, B1, B2, C e E, minerais e compostos bioativos, o torna uma matéria-prima valiosa para a indústria cosmética. Cremes, loções, sabonetes e máscaras faciais feitos com este ingrediente já chamam a atenção de consumidores exigentes na Europa e na Ásia, contribuindo para a hidratação e regeneração da pele.
A chamada asininocultura – a criação de jumentos – também abre caminho para a indústria farmacêutica. A pele dos animais, por exemplo, é utilizada na fabricação de biofármacos, colágeno e gelatina. E para completar o ciclo, os resíduos da produção são aproveitados para gerar biogás e adubo, exemplificando a lógica da economia circular e a sustentabilidade.
Com o avanço das pesquisas e o crescimento do interesse do mercado, o Brasil tem a chance de consolidar uma nova cadeia produtiva. É uma aposta na inovação, no valor agregado e no uso inteligente e sustentável dos recursos da asininocultura, prometendo um futuro promissor para o leite de jumenta e seus derivados.

