A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de indicar o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) gerou forte reação entre lideranças e entidades do Movimento Negro em todo o Brasil. O anúncio ocorreu na quinta-feira, 20, dia em que se comemora o Dia da Consciência Negra, e foi considerado inadequado por representantes do setor, que apontaram um descompasso entre a escolha do presidente e a mobilização social que pedia uma mulher negra para o cargo.
A escolha de um homem considerado pardo, mesmo sendo um aliado político de Lula, reforça a crítica sobre a baixa representação de pessoas negras em posições de poder no Judiciário. A Educafro, uma das principais entidades do Movimento Negro no Brasil, informou ter recebido protestos de várias partes do país em resposta ao anúncio. A organização solicitou que Lula responda a uma carta enviada ao Palácio do Planalto em outubro, que já expressava preocupações sobre o processo de seleção para o STF.
Além de uma resposta formal, a Educafro exigiu que o presidente organize um jantar no Palácio da Alvorada com lideranças do Movimento Negro antes da sabatina de Messias no Senado. Segundo a entidade, este encontro teria um caráter simbólico, sendo o mínimo necessário para "prestar esclarecimentos" e "estabelecer pontes" com a população negra, que se sentiu preterida pela decisão.
De acordo com avaliações de lideranças do Movimento, Lula ignorou a mobilização em torno do tema e optou por um nome de sua confiança pessoal, mesmo diante da expectativa social por uma indicação histórica. O episódio revela a percepção de distanciamento entre o discurso governamental em defesa da igualdade racial e a prática em decisões essenciais, especialmente em espaços que historicamente têm sido ocupados por homens brancos.
Desde a redemocratização do Brasil em 1985, o STF teve apenas um ministro negro autodeclarado: Joaquim Barbosa, indicado por Lula em 2003 e que permaneceu na Corte até 2014. Com a inclusão de Jorge Messias, considerado pardo, a margem de representatividade de negros no Supremo continuaria baixa, sem refletir adequadamente a composição étnico-racial da população brasileira.
A indicação de Messias seguirá agora para análise do Senado Federal, onde ele passará por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de sua votação no plenário.

