Nesta quinta-feira, 20 de novembro de 2025, Salvador, na Bahia, celebrará pela primeira vez o Dia Nacional da Consciência Negra, uma conquista histórica do povo negro que reflete a luta contínua por reconhecimento e igualdade. A formalização desse feriado representa um passo significativo, embora tardio, para a cidade que abriga 83,2% de sua população composta por negros e pardos, segundo dados do Censo 2022 do IBGE.
Para Zulu Araújo, arquiteto e mestre em Cultura e Sociedade, o 20 de novembro sempre foi um dia de resistência e mobilização na cidade. Ele recorda que, desde o início dos anos 2000, Salvador vivia essa data como um feriado não oficial, com a realização da Caminhada da Liberdade, que reunia milhares de jovens negros em um percurso emblemático entre o bairro do Curuzu e o Pelourinho. “Cinquenta mil pessoas caminhando paralisavam a cidade”, afirmou Araújo, ressaltando a importância da data na luta contra o racismo.
A importância do feriado vai além de uma simples concessão política. Araújo enfatiza que a luta pelo reconhecimento do 20 de novembro é uma conquista popular, fruto da mobilização da comunidade negra. “Este feriado nacional não é uma dádiva. É uma conquista, porque a comunidade negra já realizava esse feriado independentemente da sua sancionação pelo Congresso Nacional”, afirmou o mestre.
Zulu Araújo explica que, apesar do reconhecimento oficial do feriado, a estrutura racial do Brasil permanece marcada por divisão e privilégio, mantidas por uma elite racista. Ele destaca que o racismo ainda proporciona benefícios socioeconômicos para essa elite, que tenta preservar seus privilégios em várias esferas, incluindo educação e mercado de trabalho. “O racismo gera privilégios. Os racistas não são racistas por falta de informação, mas porque o racismo possibilita a eles privilégios”, declarou.
O impacto das políticas afirmativas, como as cotas raciais, surge como um fator transformador na realidade dos negros nas universidades. Araújo exemplifica que, com a implementação das cotas, houve um aumento significativo de negros nas instituições de ensino superior, saltando de 2% para 40% de alunos negros. Recentemente, a legislação na Bahia foi ampliada para garantir ainda mais acesso a negros e indígenas em concursos públicos e universidades.
Para a coordenadora pedagógica e estudante de Humanidades da UFBA, Beatriz Cruz, a luta por inclusão representa não apenas um direito, mas uma mudança de paradigma. Ela ingressou na universidade por meio da Lei de Cotas e afirma que a troca de experiências com outros estudantes em situações semelhantes foi crucial para sua trajetória. Beatriz deseja ver uma ampliação do acesso à educação e um futuro com mais oportunidades e igualdade para todos.
A importância do 20 de novembro, portanto, reside na sua capacidade de evocar consciência e identidade, promovendo discussões sobre a igualdade racial e o reconhecimento das conquistas do povo negro. Zulu Araújo finaliza sua análise reafirmando a necessidade de continuidade na luta contra o racismo, destacando a profunda conexão entre os avanços conquistados e a consciência coletiva da população.

