A Bahia se despediu, neste sábado (27), da respeitada Mãe Carmen de Oxaguian, ou Mãe Carmen do Gantois, uma das maiores lideranças do Candomblé no Brasil. O corpo da Ialorixá, que morreu aos 98 anos na sexta-feira (26) em Salvador, após complicações de uma gripe, deixou o Terreiro do Gantois (Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase) em um cortejo emocionante rumo ao Cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas.
O adeus, marcado por comoção e homenagens, começou por volta das 10h, quando o corpo, velado desde a tarde de sexta no tradicional terreiro da Federação, seguiu pelas ruas da capital baiana em um caminhão do Corpo de Bombeiros. O cortejo chegou ao cemitério perto das 11h, onde uma multidão já aguardava para a última homenagem.
O Terreiro do Gantois, conhecido também como Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, é um dos mais antigos e importantes do país, um verdadeiro guardião dos cultos aos Orixás e dos costumes dos povos Iorubás. A partida de Mãe Carmen encerra um ciclo histórico, mas seu legado de fé e resistência continua vivo.
Políticos e artistas se unem no último adeus
Diversas autoridades e personalidades da cultura fizeram questão de prestar sua homenagem à líder espiritual.
“O presidente Lula me ligou ontem e me pediu que viesse hoje ao Gantois representá-lo. Eu disse a ele que já tinha me programado para estar aqui e, portanto, trago todo o carinho e a solidariedade dele e de Janja neste momento tão simbólico e tão importante para todos nós”,
disse o senador Jaques Wagner (PT), ex-governador da Bahia, que representou o presidente da República. Ele também expressou sua solidariedade à comunidade religiosa e lembrou a sabedoria e generosidade da Ialorixá, que completaria 99 anos na próxima segunda-feira (29).
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), esteve presente no Cemitério Jardim da Saudade e ressaltou a importância de Mãe Carmen. “Uma Ialorixá do nosso Estado, uma referência para todos nós, Mãe Carmen, de um dos terreiros mais tradicionais, que com muita sabedoria, defendia a liberdade religiosa, o respeito a todas as formas e manifestações de fé. Sem sombra de dúvidas, um dos símbolos da nossa história”, afirmou à TV Bahia.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também fez questão de se despedir e destacou o acolhimento de Mãe Carmen. “O Gantois é um terreiro, um centro de luz importante para a Bahia e o Brasil. Estou aqui pelo meu sentimento de amizade com a família, com a irmandade, reconhecimento também o legado de Mãe Carmen, uma sacerdotisa que acolhia”, disse à BandNews FM.
Emoção de filhos de santo e reconhecimento do Estado
A cantora Mariene de Castro, filha de santo de Mãe Carmen, não conteve a emoção. “Só muita saudade e lindas lembranças, ensinamentos que vou levar para o resto da minha vida. O amor que ela tinha pelos meus filhos. Acho que Mãe Carmen era a pessoa que mais me amava nessa vida. Eu posso dizer que sou a filha de uma pessoa do bem, acho que a melhor pessoa que conheci nessa vida”, desabafou à BandNews FM.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), já havia decretado luto oficial de três dias pela morte de Mãe Carmen na sexta-feira (26). O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Estado. O próprio governador, acompanhado da vereadora Marta Rodrigues (PT), sua irmã, esteve no Terreiro do Gantois para se despedir, levando uma coroa de flores amarelas. A partida de Mãe Carmen, internada há duas semanas no Hospital Português, na Barra, por complicações de uma forte gripe, deixa uma lacuna imensa, mas seu legado espiritual, cultural e histórico permanece para o Candomblé no Brasil e no mundo.