A recente fala homofóbica de Abel Braga em sua apresentação no Internacional reacendeu o debate sobre o tabu do número 24 no futebol brasileiro. Em 2025, apenas seis dos 20 clubes da Série A utilizam essa numeração, todos para goleiros: Aranha (Palmeiras), Fernando Costa (Bragantino), Gustavo Felix (Fluminense), Leo Linck (Botafogo), Anthoni (Internacional) e Thiago Beltrame (Grêmio). Entre eles, somente Leo Linck ocupa a posição de titular em seu time.
Clubes tradicionais como Corinthians, São Paulo, Santos, Flamengo, Vasco e Atlético-MG, além de outros, integram a lista de 14 equipes que não utilizam a camisa 24 em suas formações profissionais. Essa ausência se tornou tão comum que, em muitos casos, não há explicação oficial para o fato. A seleção brasileira também aderiu a essa prática. Na Copa América de 2021, o Brasil foi a única seleção que não trouxe um atleta com a camisa 24, pulando do número 23 direto para o 25, isso apesar do elenco ter 24 convocados. O Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT chegou a processar a CBF devido a essa escolha, que acabou arquivado.
Um episódio emblemático aconteceu em 2020, quando o Corinthians apresentou o meia Victor Cantillo, que usava a 24 no Junior Barranquilla, já com a camisa 8. O então diretor Duílio Monteiro Alves disse: “24? Aqui não.” Essa declaração gerou repercussão negativa, levando o dirigente a se desculpar publicamente. Posteriormente, Cantillo passou a atuar com o número 24.
Para Claudio Nascimento, coordenador executivo do Grupo Arco-Íris, a resistência em discutir a homofobia estrutural no futebol é evidente. O tabu em torno do número 24 simboliza a necessidade de um maior avanço no combate ao preconceito. “Reconhecer e aceitar o 24 como um número qualquer mostra o quanto ainda temos de avançar no combate ao preconceito à comunidade LGBTQIA+ no futebol”, afirma Nascimento, destacando que a luta por ações afirmativas ainda persiste.

