Um levantamento recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou um cenário preocupante sobre o consumo de cannabis no Brasil. O estudo aponta que o uso da substância entre meninas e mulheres, a partir dos 14 anos, mais que triplicou nos últimos anos. Esse aumento marca uma mudança significativa no perfil de consumo no país.
Entre as adolescentes, aquelas com 14 anos ou mais, a proporção de usuárias saltou de 2,1% em 2012 para 7,9% em 2023. Para as mulheres adultas, os números também são alarmantes, subindo de 3% para 10,6% no mesmo período. A maconha continua sendo a droga ilícita mais consumida no Brasil, de acordo com a pesquisa.
Inversão no consumo: meninas superam meninos
Um dos dados mais surpreendentes do estudo é a inversão no padrão de consumo por gênero. Historicamente, o uso de maconha era mais comum entre adolescentes do sexo masculino. Contudo, agora, o consumo da substância se tornou mais prevalente entre as meninas, enquanto o uso entre os meninos adolescentes diminuiu quase 60% durante o período analisado pela pesquisa. Isso acende um alerta sobre as novas tendências sociais e seus impactos na saúde pública.
Os números gerais também impressionam: cerca de 28 milhões de brasileiros já usaram cannabis em alguma de suas formas, seja a planta in natura, óleos, alimentos ou resinas. Isso corresponde a 16,6% da população. Nos últimos 12 meses, o porcentual de pessoas que usaram maconha passou de 2,8% para 6%, indicando uma aceleração recente no consumo.
Impacto nos jovens e a luta para parar
Entre os mais jovens, a situação é ainda mais delicada. Cerca de 1 milhão de adolescentes, entre 14 e 17 anos, já experimentaram cannabis na vida, e aproximadamente 500 mil usaram a substância no último ano. Preocupantemente, 7,4% desses adolescentes precisaram de atendimento de emergência por conta do uso do psicoativo, um número bem maior que os 2,7% registrados entre os adultos.
O estudo também mostra a dificuldade que muitos jovens enfrentam para sair do vício. Dos adolescentes que usam, 68% afirmam que querem parar de consumir a droga, mas 43% relatam que simplesmente não conseguem. Esse dado sublinha a importância de políticas de prevenção e tratamento eficazes para essa faixa etária vulnerável.
Como a maconha é consumida
A pesquisa detalha as formas mais comuns de consumo da maconha no Brasil. A maioria, 90% dos usuários, fuma a substância, sendo o formato prensado o mais utilizado. Uma parcela menor, cerca de 10%, consome comestíveis, enquanto 4% utilizam vaporizadores. Além disso, a prática de misturar maconha com tabaco também é frequente, com 17% dos entrevistados admitindo essa prática regularmente.
Detalhes da pesquisa
Os dados apresentados fazem parte de um caderno temático do terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), realizado pela Unifesp. Para o estudo, foram entrevistadas 16.608 pessoas com mais de 14 anos, entre 2022 e 2023. A pesquisa foi desenvolvida em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP) e com a Ipsos Public Affairs.

