A 100ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre, um dos eventos mais tradicionais do esporte brasileiro, teve um sabor especial e um desabafo marcante. O atleta Fábio Jesus Correia, natural de Monte Santo, na Bahia, conquistou o terceiro lugar na elite masculina, sendo o melhor brasileiro a cruzar a linha de chegada.
Mas, além da medalha de bronze, Fábio usou o pódio para escancarar uma realidade difícil do atletismo no país: a falta de incentivo e estrutura. Conhecido como “Guerreiro do Sertão”, ele completou os 15 km do percurso em São Paulo com o tempo de 45 minutos e 6 segundos.
Fábio ficou atrás apenas do campeão, Muse Gizachew, da Etiópia (44min28s), e de Jonathan Kipkoech, do Quênia (44min32s). Esta foi a primeira vez que o baiano subiu ao pódio da São Silvestre, superando seu próprio recorde pessoal na prova, onde havia alcançado a quarta posição em 2022.
De coletor a medalhista: a rotina de um campeão
A história de Fábio Jesus é um verdadeiro exemplo de superação. Antes de conseguir se dedicar integralmente ao esporte em 2023, o atleta baiano conciliava sua rotina intensa de treinos com o trabalho de coletor de lixo em São Paulo. Essa jornada árdua, repleta de resiliência, culminou em um pódio histórico e em um pedido direto por mais investimento.
Com a medalha de bronze no peito, Fábio Jesus Correia fez um apelo contundente, que reflete a realidade de muitos atletas talentosos no Brasil:
"É uma pena que o Brasil não incentive mais o esporte e não invista no atletismo. Eu treino na rua. Este pódio é resultado de muito esforço individual. Se tivéssemos mais estrutura e apoio, poderíamos estar brigando pela primeira posição mais vezes. Fico muito feliz pelo resultado, mas é preciso que o país olhe para a gente."
A fala de Fábio ecoa a necessidade urgente de apoio e infraestrutura para o atletismo brasileiro. Mesmo após a profissionalização, ele ainda enfrenta desafios como a falta de locais adequados para treinamento, muitas vezes improvisando nas ruas. Seu desempenho na São Silvestre mostra o potencial enorme dos nossos atletas, que, com mais suporte, poderiam alcançar resultados ainda mais expressivos e levar o nome do Brasil ao topo do pódio em diversas competições.
Bahia em dose dupla no pódio feminino
A representação baiana na São Silvestre foi ainda mais forte com o desempenho de Núbia de Oliveira Silva na prova feminina. Ela também conquistou o terceiro lugar, com o tempo de 52 minutos e 42 segundos, garantindo que o Nordeste fosse duplamente representado entre os melhores do evento. A 100ª edição da São Silvestre teve um recorde de participantes, com 55 mil inscritos, confirmando a paixão nacional pela corrida e a importância de eventos como este para o cenário esportivo.

