O embaixador do Brasil na Bélgica, Sílvio Albuquerque, criticou a atuação da polícia brasileira, afirmando que "a polícia age diferente quando o jovem é negro". A declaração foi feita durante a sua visita a Salvador, na Bahia, onde lançou seu livro Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas.
Albuquerque, que é o primeiro negro a liderar uma missão diplomática do Brasil na Europa, mencionou o episódio ocorrido em Ipanema, no Rio de Janeiro, em 2024, envolvendo jovens negros filhos de diplomatas. O ato repressivo da polícia durante a abordagem chamou a atenção do diplomata devido a suas implicações raciais.
"Esse episódio reflete uma visão estereotipada do risco associado aos jovens, principalmente negros, em áreas urbanas", afirmou. O embaixador expressou também o choque que a ocorrência causou nas embaixadas e no Itamaraty, dada a gravidade da resposta das autoridades do Rio de Janeiro na ocasião.
Ele ressaltou que as atitudes agressivas da polícia não surpreendem aqueles que testemunham o racismo cotidiano, destacando a necessidade de conversas sobre a discriminação racial em diversos espaços sociais. "Uma abordagem como a que ocorreu não seria considerada normal se os jovens fossem brancos", comentou.
Além disso, Albuquerque abordou a crescente manifestação de racismo e xenofobia em diferentes partes do mundo, mencionando a dificuldade de criar filhos negros em contextos diversos. Ele comparou suas experiências em países como Canadá, Quênia e Bélgica, enfatizando que cada local apresenta desafios únicos em relação à discriminação racial.
Ao falar sobre o racismo no esporte, Albuquerque também citou as ofensas racistas enfrentadas pelo jogador Vini Jr. nos estádios da Espanha, criticando a inadequação das respostas das autoridades organizadoras. Para ele, a luta contra o racismo no futebol carece de ações mais efetivas.
Por fim, o embaixador assegurou que a ONU ainda desempenha um papel crucial na mediação de conflitos mundiais, mesmo diante das dificuldades impostas pelas tensões internacionais.

