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Polícia da Bahia mira facções e prende lideranças em megaoperações

Em 2025, a polícia baiana realizou grandes operações contra facções, prendendo líderes, bloqueando fortunas e combatendo a infiltração política do crime organizado.
Por Redação
Polícia da Bahia mira facções e prende lideranças em megaoperações
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Ao longo de 2025, as forças de segurança da Bahia realizaram algumas das maiores operações policiais já vistas no estado. O foco principal foi atingir o coração das operações, as finanças e a influência política de grupos criminosos que agem tanto dentro da Bahia quanto em outros estados do Brasil.

Essas ações representam um passo importante na estratégia de cortar o dinheiro das facções, prender seus chefes e desorganizar suas estruturas de comando. Elas estão ligadas a crimes como tráfico de drogas, assassinatos, lavagem de dinheiro e corrupção.

Polícia mira comando e dinheiro: Operações Zimmer, Rainha do Sul e Freedom

Entre as operações de destaque está a Megaoperação Zimmer, comandada pela Polícia Civil da Bahia, através do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic). O alvo foi uma organização criminosa envolvida com tráfico de drogas, assassinatos, crimes contra o patrimônio e lavagem de dinheiro, com atuação em vários estados.

Ao todo, 46 pessoas foram presas. Entre elas, o capitão da Polícia Militar da Bahia, Mauro das Neves Grunfeld, detido em um condomínio de luxo no bairro da Graça, em Salvador. Ele já tinha sido preso em 2024, na Operação Fogo Amigo, que também investigou a participação de agentes públicos em esquemas de crime.

Já a Operação Rainha do Sul desmantelou uma parte importante do narcotráfico ligada ao Bonde do Maluco (BDM), que tem atuação interestadual e forte presença no Nordeste. A principal pessoa visada foi a advogada Poliane França Gomes, conhecida como “Rainha do Sul”. Ela é apontada como uma das mulheres mais perigosas do tráfico de drogas da região.

A polícia diz que Poliane usava sua profissão de advogada para passar ordens, fazer ameaças e dar orientações estratégicas entre os líderes da facção, incluindo um dos chefes do grupo, que está preso desde 2013. Mensagens interceptadas mostraram ameaças de morte a integrantes e rivais que não seguissem as regras da organização.

Além das prisões, a operação focou no lado financeiro do BDM, bloqueando contas bancárias ligadas a 26 pessoas físicas e jurídicas, em valores que podem passar dos R$ 100 milhões. A polícia também apreendeu:

  • Joias avaliadas em cerca de R$ 1 milhão
  • Drogas e armas
  • Veículos
  • Um haras com cavalos de raça, avaliado em R$ 3 milhões
  • Uma usina de energia solar, mostrando o esquema de lavagem de dinheiro.

A Operação Freedom, por sua vez, cercou o Comando Vermelho (CV) na Bahia, com o objetivo de desarticular seus núcleos armado e financeiro. A ação foi feita poucos dias depois de uma grande operação contra a mesma facção no Rio de Janeiro, o que mostra a boa parceria entre as polícias dos estados.

Durante a Freedom, 36 pessoas foram presas na Bahia, duas no Ceará e um suspeito morreu em confronto com a polícia em Salvador. Entre os presos estavam Luís Lázaro Santana Alves, conhecido como “LL”, apontado como chefe da facção no bairro da Liberdade, e Marielle Silva Santos, sua companheira e responsável pela gestão financeira do grupo. Foram cumpridos 90 mandados judiciais e bloqueadas 51 contas bancárias, além da apreensão de armas e drogas. A Polícia Civil acredita que a operação pode ajudar a solucionar pelo menos 30 assassinatos na capital baiana.

Mulheres no comando e infiltração política: Operações Costa Segura e Anátema

A Operação Costa Segura foi atrás de líderes do Comando Vermelho que fornecem armas e drogas no sul da Bahia. A principal alvo foi Kananda Hemerly Moreira, de 29 anos, viúva de um dos chefes da facção, que continuava coordenando crimes mesmo após a morte do marido.

As investigações mostraram que Kananda negociava armas de fogo, enviava drogas e organizava a logística do grupo. Ela também é acusada de estelionato por vender uma pistola por R$ 10 mil sem entregar o produto. A operação prendeu 29 pessoas em cidades baianas, no Rio de Janeiro e na Paraíba, e revelou que muitas mulheres ocupam cargos importantes no crime organizado.

A Operação Anátema revelou como o crime organizado conseguiu se infiltrar diretamente na política baiana. A investigação apontou que o esquema criminoso, ligado ao Bonde do Maluco (BDM) e conectado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), movimentou mais de R$ 4,3 bilhões em operações ilegais, incluindo tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro.

Entre os presos está o vereador Ailton Leal (PT), de Santo Estevão, apontado como responsável por usar um posto de combustíveis para lavar dinheiro da facção. Outro político investigado é o vereador Marcão do Pipa (PSB), de Jaguarari, que teve um imóvel alvo de busca e apreensão. Uma ex-candidata a vereadora e o irmão de um ex-vice-prefeito também foram alvos, mostrando a existência de um grupo político a serviço da facção.

A segunda fase da Operação Anátema deu continuidade às investigações contra o grupo comandado por Fábio Souza Santos, o “Geleia”, que está foragido desde 2023. Esta nova etapa prendeu seis pessoas, incluindo outro vereador do interior da Bahia, e cumpriu mandados em várias cidades baianas e em outros estados. A Polícia Civil destacou que a análise aprofundada das finanças e bens fortaleceu a estratégia de desmantelar a estrutura econômica, política e operacional da facção.

A estratégia de sufocar o crime organizado

Juntas, essas operações mostram uma mudança no jeito de enfrentar o crime organizado na Bahia. As ações são integradas, usam muita inteligência, contam com a cooperação de outros estados e focam em descapitalizar as facções. Mais do que apenas prender pessoas, o objetivo dessas ofensivas é enfraquecer o poder econômico, de logística e político das organizações criminosas. Isso diminui a capacidade delas de se organizar, expandir e praticar violência, reafirmando a presença do Estado em áreas que antes eram dominadas pelo crime.